Seja você lida constantemente com desconforto abdominal ou está buscando compreender melhor as nuances da saúde gastrointestinal, a diarreia crônica é um tema que merece atenção. Esta condição, muitas vezes subestimada, pode afetar significativamente a qualidade de vida, impactando a rotina diária e gerando preocupações de ordem médica.
O objetivo principal desse artigo é fornecer uma revisão atualizada dos conceitos relacionados ao diagnóstico da diarreia crônica na área de nutrologia e saúde intestinal. Confira!
O que é a diarreia crônica?
A diarreia crônica é definida como aumento do número de evacuações e/ou mudança da consistência das fezes por um período maior do que 4 semanas.
Com uma prevalência de 3-5% na população adulta, a diarreia crônica pode ser causada por diversos fatores, como intolerâncias alimentares, distúrbios intestinais funcionais, efeitos colaterais de medicamentos, anomalias estruturais, cirurgias anteriores e doenças inflamatórias.
A fisiopatologia da diarreia crônica muitas vezes é complexa e, envolve diversos mecanismos, como osmótico, secretor, inflamatório, disabsortivo e a dismotilidade.
A abordagem clínica e nutrológica inclui uma anamnese detalhada para identificar a causa subjacente, considerando hábitos intestinais normais, características físicas das fezes e fatores como dieta, medicamentos, histórico familiar e condições sistêmicas.
Quais as principais causas da diarreia crônica?
Causas Alimentares de Diarreia Crônica: Intolerância à Lactose e Frutose
A intolerância à lactose é uma causa comum de diarreia crônica, afetando uma parcela significativa da população.
Caracterizada pela incapacidade de digerir adequadamente a lactose, o açúcar do leite, essa condição resulta em sintomas gastrointestinais, incluindo diarréia, após o consumo de produtos lácteos.
Estudos indicam que a prevalência da intolerância à lactose varia em diferentes grupos étnicos, sendo mais comum em adultos e menos frequente em crianças.
A intolerância à frutose é outra causa alimentar relevante de diarreia crônica. Este distúrbio envolve a má absorção de frutose, presente em muitas frutas, mel e alimentos processados, levando a sintomas gastrointestinais, como diarréia, dor e distensão abdominal.
O diagnóstico preciso envolve testes específicos, como o teste do hidrogênio expirado.
Diarréia Crônica e Desequilíbrio da Flora Intestinal: Síndrome do Supercrescimento Bacteriano Intestinal (SIBO)
A Síndrome do Supercrescimento Bacteriano Intestinal (SIBO) é caracterizada por um desequilíbrio na flora intestinal e aumento anormal do número de bactérias no intestino delgado.
Este desequilíbrio interfere na digestão de vários alimentos e nutrientes, podendo levar a diarréia crônica.
Fatores predisponentes incluem alterações anatômicas, disfunção da motilidade gastrointestinal e condições que reduzem a acidez estomacal.
A SIBO é diagnosticada através de testes específicos, como o teste do hidrogênio expirado.
O tratamento visa restaurar o equilíbrio bacteriano por meio de antibióticos, dieta e abordagens que promovem a saúde intestinal.
Reconhecer e tratar o desequilíbrio da flora intestinal de froma correta é essencial para abordar as causas subjacentes da diarreia crônica relacionadas à SIBO.
Diarréia Crônica Relacionada a Medicamentos
Mais de 700 medicamentos podem causar diarréia. Confira abaixo os mais mais relevantes.
1. Antibióticos e risco de Infecção por C. difficile
Antibióticos lideram como a principal causa de diarréia relacionada a medicamentos. A disbiose induzida por antibióticos aumenta significativamente o risco de infecção por Clostridium difficile (CDI), uma causa frequente de diarréia crônica e de difícil tratamento
2. Medicamentos e Colite Microscópica
Diversos grupos de medicamentos, incluindo antiinflamatórios não esteróides (AINEs), inibidores da bomba de prótons (como omeprazol) e antidepressivos, estão associados ao aumento do risco de colite microscópica.
O uso prolongado e recente desses medicamentos intensifica ainda mais esse risco, demonstrando impacto diferenciado nos subtipos de colite microscópica.
3. Inibidores da Angiotensina (IAs)
Recentemente, foi descrita uma condição conhecida como enteropatia associada a IAs, principalmente com olmesartana, mas também com outros IAs.
Esses medicamentos, usados para controlar a hipertensão, podem induzir alterações intestinais semelhantes à doença celíaca.
4. Medicações para tratamento do câncer
Os inibidores de checkpoint, agentes utilizados na imunoterapia contra o câncer, apresentam efeitos colaterais gastrointestinais graves, assemelhando-se à doença inflamatória intestinal (DII). Desde erosões até enterocolite necrosante, essas reações variam de leve a grave.
5. Medicamentos para controle do peso e do diabetes
Diversos medicamentos, usados para controlar diabetes e sobrepeso/obesidade podem causar diarreia por diferentes mecanismos.
Desde acarbose causando má absorção de carboidratos, metformina, e também o orlistate, que induz a eliminação de gordura nas fezes. Esses medicamentos podem ter impactos significativos no trato gastrointestinal.
Diarréia Pós-Operatória
Procedimentos cirúrgicos podem causar alterações na anatomia ou fisiologia gastrointestinal, levando a diarreia crônica.
Retirada da vesícula e cirurgia bariátrica, são exemplos que podem resultar em síndromes específicas, como esvaziamento gástrico acelerado, distensão abdominal pós-prandial persistente e diarréia osmótica.
Enteropatias
Doenças que afetam a parede intestinal, conhecidas como enteropatias, podem causar síndromes de má absorção e diarreia crônica.
Causas autoimunes, radioterapia, infecções, distúrbios infiltrativos e neoplásicos, além de diversas condições, são discutidas como desencadeadoras.
Colonopatias
Diarreia originada no cólon causa geralmente sintomas pós alimentares, cólicas e urgência.
Diversas causas autoimunes, medicamentos, infecções crônicas, distúrbios infiltrantes e neoplásicos, cirurgias anteriores de cólon e distúrbios de motilidade e funcionais são abordados, refletindo a diversidade de condições que podem impactar o cólon.
Diarréia funcional
A diarreia funcional é definida como diarreia crónica que não é causada por doença orgânica ou estrutura.
Seu diagnóstico é baseado nos critérios clínicos de Roma IV, caracterizado por fezes diarreicas que ocorrem mais de 25% das vezes, por mais de 3 meses seguidos, e se distingue da Síndrome do Intestino Irritável por ausência de dor como sintoma predominante.
Qual exame é usado para diagnosticar a diarréia crônica?
O diagnóstico preciso da diarreias crônica é crucial para direcionar o tratamento adequado. Neste sentido, diversos testes e exames são fundamentais nesse processo, com destaque especial para o teste respiratório do hidrogênio expirado.
1. Teste Respiratório do Hidrogênio Expirado
Este teste é importantíssimo na investigação da causa da diarréia crônica. Este exame faz o diagnóstico preciso de intolerância a lactose, frutose e síndrome do supercrescimento bacteriano no intestino delgado. Estas condições são causas muito comuns de problemas de digestão e diarréia.
No exame do Hidrogênio Expirado, o paciente ingere uma substrato fermentável, e a quantidade de hidrogênio expirado pelos pulmões, revela possíveis anormalidades na absorção intestinal, fornecendo informações cruciais para o médico nutrólogo.
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2. Avaliação de Disbiose Intestinal
Exames para avaliar flora intestinal, são necessários muitas das vezes, pois desequilíbrios na microbiota intestinal frequentemente contribuem para diarreias crônicas. Aqui na nossa clínica realizamos o teste Indican para essa finalidade.
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Diagnóstino de diarréia crônica com Nutrólogo em Ribeirão Preto: Dr. Gustavo Solano
Além desses já citados, temos os exames laboratoriais (sangue, fezes e urina) e exames de imagem, como colonoscopia, endoscopia, ultrassom, entre outros, que costumo solicitar aos meus pacientes que apresentam quadro de diarréia de causa indefinida.
A abordagem integrada desses testes e a adequada interpretação por parte do médico nutrólogo, é imprescindível para se fazer um diagnóstico preciso.
Em meio à complexidade das diarreias crônicas, destaco a diversidade de causas, desde fatores alimentares até distúrbios gastrointestinais e medicamentos.
Compreender as múltiplas origens dessa condição é crucial para um diagnóstico preciso e, consequentemente, para um tratamento eficaz.
Ressalto que o manejo das diarreias crônicas requer uma abordagem personalizada, sob a supervisão de um especialista. É um trabalho investigativo e criterioso.
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